Xamã dos ianomâmis brasileiros alerta em Londres contra venda da Amazônia
Qua, 17 Out, 01h01
LONDRES (AFP) - Davi Kopenawa, xamã e porta-voz da Comunidade dos ianomâmi do Brasil, advertiu em Londres contra os perigos da campanha que está em voga na Grã-Bretanha sobre a compra da Amazônia para evitar sua destruição, afirmando que a única coisa que pode salvar a floresta é a proteção das comunidades e terras indígenas.
"A floresta está acabando, os rios estão doentes, a terra está cansada e os ianomâmis estão morrendo", afirmou Kopenawa em uma coletiva de imprensa.
O xamã se referia à campanha lançada pela organização Cool Earth, fundada por um milionário britânico, Johan Eliasch - nomeado pelo primeiro-ministro Gordon Brown como um de seus assessores especiais sobre desmatamento -, que promove a idéia de comprar pedaços da Amazônia para protegê-la.
"Agora querem comprar pedaços da floresta. Mas a terra não pode ser comprada. Não é carne, não é roupa, que se compra e vende. A terra é nossa vida, e nós sempre a protegemos", afirmou.
"A terra tem só um coração, e é ali que está a alma, a felicidade. Não podemos deixar que isso seja destruído", ressaltou.
"Essa gente (do Cool Earth) tem que respeitar as comunidades que vivem lá. Precisam vir conversar conosco", acrescentou Kopenawa, que viajou a Londres para o lançamento de um documento, batizado "O progresso pode matar", da organização Survival International.
Segundo cifras da Cool Earth, a organização já comprou 32.000 acres (13.000 hectares) no Brasil e no Equador.
Davi se reuniu na tarde desta terça-feira com deputados no Parlamento, e na quarta-feira deve entregar uma carta ao primeiro-ministro na Downing Street, alertando sobre os perigos que a Amazônia e as comunidades indígenas correm.
Na entrevista coletiva, o diretor da Survival International, Stephen Corry, ressaltou que a campanha da Cool Aid não é séria e que tira a atenção de uma "solução verdadeira" para a Amazônia.
Esta campanha "permite comprar uma pequeníssima fração" da selva, admitiu. "Algo equivalente a um balde de água no Mar do Norte"
"Mas o problema não é este, mas sim que tira o foco do verdadeiro problema, que é a proteção da terra e as comunidades indígenas", advertiu Corry.
A Survival Internacional estima que 50 milhões de acres (mais de 20.000 hectares) de selva amazônica sejam desmatados a cada ano.
No relatório, a Survival International alerta que os projetos para desenvolver as tribos de suas terras tradicionais e "impor o progresso" provocam uma miséria incomensurável nas comunidades, cuja cultura e modo de vida estão ameaçados pela mineração e pelo desmatamento.
Afirmou ainda que foi comprovado que a separação da terra está vinculada a crises sanitárias e sociais nas comunidades indígenas, incluindo doenças físicas e mentais, como a obesidade, a depressão, a dependência de drogas e os suicídios.
"Minha preocupação é a contaminação, que está sendo causada por empresas mineiras, e as doenças como a malária e a tuberculose, que foram levadas por pessoas de fora estão matando muita gente", disse o líder ianomâmi. "Além disso, estão acabando com as plantas com as quais nos curamos", denunciou Davi.