quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Um homem árabe para chamar de seu, Um amante Berbere, Fri e Addi, Os cuidados de Nazira, Parte 44° - depilacao e lama marroquina! Marrocos

(foto taken from: http://www.panoramio.com/photo/2488)

Marrocos

Eu sonhava... uma voz me chamava...
Mas, eu já estava comecando a senti a realidade (ilusória do nosso mundo) me chamando.
Uma voz conhecida chamava por meu nome, eu senti o cheiro de especiarias, com certeza era Nazira, ela sempre tinha aquele cheiro no avental, ainda que cada dia usasse um limpo, ia-se a cozinha preparar algo para o café-da-manha e depois já estava cheirando as especiarias, ervas e todo tipo de aromas deliciosos que o Marrocos podia oferecer.

Mas, por que ela estava no meu quarto, por que tentava me acordar?
Confusa e ainda presa nas sensacoes do sonho que tive- parecia que o mundo dos sonhos ainda nao tinha se dissipado completamente - tive que me decidir em acordar de vez ou continuar a dormir e sonhar.
Mas, a voz continuava a me chamar, me trazer de volta para vivenciar mais um dia marroquinho.

-Fri, are you ok? (Fri, voce está bem?)

Finalmente abri totalmente os olhos, eles estavam de fato já registrando as imagens com mais clareza e eu me questionei em voz alta - "Por que era Nazira ao meu lado e nao Addi?"

Ela me contou que Addi tinha ido visitar as criancas de uma entidade que ele ajudava, e sabe como Addi era, ele conferia tudo para ver se usavam mesmo o dinheiro para ao que ele era destinado.

Mas, eu tinha combinado que eu queria sempre visitar também, me fazia tao bem visitá-las, passar um pouco de amor e carinho para aquelas doces criancas que de amor e calor humano tanto necessitavam.
Nazira, sem parar seus afazeres me contava que Addi nao iria demorar e orientou-a a cuidar de mim, me alimentando e fazendo o que eu precisasse.
Como se eu fosse uma criancinha, que de mimos precisasse, ah! Addi!

Pois entao decidi, aquele dia eu iria saber mais da vida dela.
Comecei a indagar sobre seus sentimentos, ela ficou bastante corada, nao se sentia confortável de contar para a futura esposa do seu patrao coisas tao íntimas.
Agitava os lencois limpos separando-os para a troca, puxando para fora da cama os que iriam ser lavados, quase ao mesmo tempo em que os separava na cesta que levaria na parte debaixo da casa para lavar, abria as cortinas para o sol penetrar por todo aposento.
E ainda sem parar, falava sem deixar chances para que eu entendesse perfeitamente as respostas.
Parei de perguntar e passei a observá-la.
Era ainda bonita, mas deve ter sido muito mais quando menina - pensei.

Ainda observando-a, me indaguei:
- O que a fez mais velha - o trabalho, as dificuldades ou o passar da vida?

Como essa mulher chegou a idade em que estava - foi atraves de dor, de sofrimento, ou apenas pelo levar da vida?

Seu corpo ainda jovem exibia formas cheias mas equilibradas, seios fartos, quadris bastante largos, cintura afinada, pele morena - nao tao curtida quanto as pessoas que vi no deserto.

Nazira era bonita, seu corpo certamente ainda possuia muita beleza, mas estava sempre mantendo-o protegido embaixo de vários tecidos, mesmo assim no movimento do andar os tecidos se aderiam por vezes nas curvas do corpo e podiamos perceber que embaixo de todos aqueles panos ainda havia uma bela mulher...

Mas seus olhos - havia algo neles; um cansaco, ou uma dor que nao se definia, podia ser que eram as duas coisas...sim podiam, eu queria saber mais, tinha que saber.
Afinal se eu me casasse com Addi iríamos viver todos juntos...

Ela tomava todos os lencois da cama, limpos, cheirosos, esticava-os com habilidade na imensa cama.
Eu que já fora dela estava, tentando me enconstar na janela para olhar a vista maravilhosa que tínhamos dali, e aproveitava para pensar nas perguntas que poderia fazer sem deixá-la tao constrangida.

Ouvi ela falar algo enquanto olhava para meus pés descalcos, nao entendi bem, pois misturou ingles com arabe...
Rapidamente trouxe minhas sandálias empurrando-as para perto dos meus pés...
Por que cuidava de mim com tanto cuidado?
Era paga para isso?
Nao, com certeza seu trabalho nao era nos bajular e a atitude dela nao é de quem bajulava, era expontanea, ativa, reacoes sinceras repentinas, sem tempo para premeditacao, parecia sim nos gostar - do Addi com certeza gostava muito, via-se bem e nitidamente o grande carinho que ela sentia por ele.
Parecia gostar de mim também, seria pelo fato de eu estar sendo quase a esposa do patrao, ou pelo que Addi significava para ela?

Sem parar, comecou a reclamar que eu nao deveria ficar sem os chinelos já que Addi contou o quanto eu era sensível e as vezes frágil diante de uma simples mudanca de temperatura.

Resmungava que eu nao comia tudo que ela preparava e por isso eu estava fraca sempre, que deveria comer o que ela sabia que era bom para deixar uma mulher forte e saudável.

-"Quer morrer cedo e deixar esse seu homem para as outras, deve sim se tratar, cuidar-se para continuar a viver para ele e por voce mesma?"

Oh! ela me tratava como a moca que trabalhou na casa dos meus pais quando eu era apenas uma linda e meiga menininha branquinha, da cara sardenta com cabelos lisos de índio.
Mas, ela sendo mais nova do que eu, mantinha a mesma atitude da moca que cuidou de mim quando apenas era uma garotinha magra e com trancas nos cabelos.

Deixei-a falar, enquanto fingia que aceitava tudo, eu balancava a cabeca e confirmava o que ela dizia.
Sim faria tudo que ela queria, sim...faria tudo que ela sabia que era bom para mim.
E me contava de como as mulheres árabes eram fortes, e mantinham seus lares e maridos felizes.
Ia para o banheiro ainda falando sem me deixar chances de fazer minhas perguntas
Estava elétrica, era elétrica - via-se bem que amava o que fazia, sentia-se bem conosco, e devia ser feliz com sua familia também.

Me perguntou se podia confirmar o meu banho de vapor do Hamman, e uma depiladora (ao estilo arabe), pintura de henna para que eu ficasse mais atraente para o Addi.
Eu sabia que Addi queria que eu fosse mais vezes receber o tratamento com lama (ghassoul), muito rico em minerais (silicio e magnésio) usada para tratar o cabelo e peles oleosas e escamosas, mas também muito usada para tratar peles secas - exatamente como a minha.
Ele realmente deixa os cabelos e a pele tratada e nao faz o que a maioria dos cosméticos que prometem mil e uma coisa e nao funcionam de verdade.Essa lama nao é apropriada apenas para os cabelos, mas para todo o corpo.

Além de todos os óleos maravilhosos que eles oferecem - argan, gergelim, amendoa, azeite de oliva entre muitos outros.
Lembro de algo que minha cunhada comentou comigo - depilacao com um tipo de caramelo e limao, acho que era Halawa (sukkar, halawa, Agda), o mesmo nome de um doce turco (já comi muito isso na Turquia), mas como eu nao costumo me depilar com cera, so usava barbeador, que por si ja me dava alergia suficiente, eu nao quis ir a tal depilacao.Disse ela que algumas mulheres, por tradicao, um grupo delas se reuniam para elas mesmas prepararem em casa. Desse modo era um prazer prepara-lo. Nos hammans as mulheres sempre recebem muitas massagens antes de qualquer tratamento de beleza.

Tenho problemas com vasos, nao que eles aparecem, nao tenho varizes, mas eu nunca usei anticoncepcionais porque um médico percebeu que minhas veias nao podem sofrer certas pressoes.
Talvez por isso nunca tive varizes, nunca depilei com cera e nem nunca tomei anticoncepcionais.

Confiei no que aquele médico me contou, pois era um médico ao estilo antigo, que cuidava do paciente e nao servia a malévola indústria farmacéutica.
Dr. Geraldo Gualberto, que já descansou muito tempo atrás.

Mas, se eu fosse fazer uma depilacao, com certeza optaria por essa depilacao marroquina - e mais saudável do que as que usamos com químicas que provocam alergias e machucam as veias e vasos.

Ah! sinto falta do jeito das mulheres e homens árabes se cuidarem, de sua higiene, seus banhos, sua atencao voltada a higience, aos cuidados com o corpo...
No nosso mundo estamos fazendo tudo tao automatico, e percebi que muitos lugares em países de língua árabe que fui estao comecando a acontecer o mesmo.

O sistema está nos tornando todos robotizados, rápidos, corridos - até mesmo nas relacoes - as pessoas nao querem mais perder tempo umas com as outras, conhecer a alma de cada uma.
Imagina entao se vao perder tempo em banhos e cuidados que levam horas...
E quando fazem, vao para centros de estéticas que cobram um valor exorbitante, e as pessoas nao aprendem a fazer umas nas outras.

Muitas mulheres frequentam esses locais, deixam passar esses cremes em suas peles e cabelos, mas nao conhecem suas substancias, de onde procedem, como fazem para aplicar, nao recebem mais o conhecimento, pois que esses centros precisam manter o conhecimento do uso, das substancias quase em segredo para obter lucros.

E pior ainda, a vida corrida nao da interesse a essas mulheres de investigarem e conhecer mais profundamente todo o processo dos produtos e das aplicacoes - e uso dos metodos que se sujeitam.

Mas, antigamente, nos países arabes e até no nosso, as mulheres aprendiam muitas artes, e até aprendiam sobre a arte de cuidar da beleza com produtos naturais - como cuidar delas mesmas (na familia uma mulher ajudava a outra), aprendiam nocoes de utilidade das ervas e raízes, e assim cada uma de nós era uma enciclopédia (as vezes resumida), mas o importante e que o conhecimento era dividido.

Esbarrei num vaso de ceramica alema e ele caiu, me trazendo de volta a prestar atencao a ela, nao resisti e indaguei:

-Nazira, are you happy with your life; work, family and us -Addi and me?

(Nazira, voce é feliz na sua vida; com seu trabalho, familia, e conosco, eu e Addi?)

Ela olhou surpresa para mim e sem piscar, me olhando firme agitou seus bracos e depois naquele jeito inquieto, e com semblante de quem nao acredita que alguma vez deu a entender que nao fosse feliz respondeu com seguranca.

-Yes, I am much happy in my life; with my family and with my work it include Addi and you too

(sim, eu sou muito feliz; com minha familia e meu trabalho, e isso inclui Addi e voce também)

Observei seu rosto com atencao para ver se a expressao no seu rosto denotava alguma negacao ao que suas palavras afirmavam.
Nao, ela realmente estava sendo sincera, era feliz com o que tinha, vivia e fazia, assim como também era feliz com todos aqueles que a rodeavam - que bom, saber que ela era feliz me fez senti bem também!

Cheguei próximo dela e parei bem na sua frente, depois procurei o olhar dela, queria que ela visse que eu falava sinceramente:

- Please, if you need something dont hesitat to ask us!

(por favor, se voce precisar de alguma coisa nao hesite em nos pedir)

Mas, ela já tinha dito que com o Addi ela sabia que se precisasse de algo, o tivesse um problema - fosse o que fosse - sabia que com ele poderia contar.
Senti imenso carinho por ela, principalmente por ela gostar dele com tanta sinceridade, sem interesses disfarcados.

Nazira era uma linda marroquina, eu achava-a muito bonita e naquele dia eu soube que ela chegou aos seus 33/34 anos pelo passar natural da vida, o trabalho nao a fez sofrer; ela amava o que fazia, as pessoas nao a machucaram; vivia cercada dos que ela amava, vivia sua vida, cuidava de seu patrao, sua familia e mantinha sua retidao, e sua moral no melhor exemplo.
Ainda que fosse uma mulher que trabalhava fora, ela sabia conciliar tudo de maneira a que nada se chocasse e causasse conflito em sua vida e na vida dos que amava.

So conheceu um homem - seu marido - e estava satisfeita assim, nao ansiava por modismo e manipulacoes apelativas da moda, ou dos artistas...
Ela era a pessoa certa para estar conosco.
Teria sido ela influenciada pelo Addi, ou sua própria natureza a deixava assim.
Vi muitas mulheres árabes loucas por modas, doentes pelas novidades que vinham de toda parte do mundo.
Queriam ser como as atrizes dos filmes do ocidente, ou mesmo as artistas árabes, que ja de longe comecaram a se parecer muito com nós mulheres ocidentais.

Todas queriam possuir os que os famosos possuiam, ganhar muitas jóias - ouro -conseguir homens lindos e ricos!
E a Nazira ali, livre de todas essas manipulacoes, uma simples mulher arabe, vivendo sua vida com moralidade e amor - muito mais sábia do que todas nós que pensamos que somos superiores por possuir toda tecnologia a nosso dispor.
Ela teve meu respeito e carinho para sempre.
Mas, por que vi uma tristeza em seu olhar, mesmo que ela parecia pequena?
Como saber, nós mulheres somos um grande mistério, as vezes para nós mesmas.

Somente muito tempo depois descobri pelo Addi que ela tinha perdido uma filhinha, e ai estava aquela pequena sombra de tristeza presente nos seus olhos.
O mesmo que eu carreguei durante toda a minha vida, pela perda da minha filhinha, e que essa tristeza infinita e exata que estava sempre no meu olhar, ainda que eu sorrisse sumiu com o meu tempo que estava junto do Addi.

Hoje em dia as mulheres tem vergonha de se vestirem com decencia, nao podem ficar sem pintar as unhas com o esmalte da moda, a roupa da moda, maquiagem da moda, cabelo da moda, querem achar um homem que seja como aquele homem padrao que as novelas e filmes ditam, trabalhar fora e competir com os homens, dirigir e serem livres.

Mesmo em alguns países árabes vemos isso, sim...vemos sim.
Nao sou a favor dos países árabes que interpretam o alcorao de forma erronea, distorcida e que já trouxe dor, morte e sofrimento para muitas mulheres, mas concordo plenamente com o hábito de conduta moral, da vestimenta decente que as mulheres arabes aprendiam e ainda muitas seguem sem vergonha do que vao delas falar.

Mas, eu tive o prazer de conhecer mulheres arabes e islamicas nos países que fui que ainda salvam a moralidade, a uniao familiar, o carinho e respeito por um homem, a sabedoria feminina ainda latente em seu amago sabendo dirigir suas vidas e de seus homens.

Nazira me disse que eu deveria ir na sua casa, para conhecer sua família e saber como ela vivia
Estava sem saber explicar porque Addi ainda nao tinha me levado, era tao ao lado, pertinho.
Eu também nao sabia, mas pensei que por falta de tempo, Addi vivia sempre atarefado com seu trabalho, como o "ajudar e cuidar" dos outros, cuidar de mim, amar sua familia e a todos a sua volta, algumas coisas nao dava para ele fazer rapidamente, ou lembrar de tudo, eu sabia disso.

Abri a gaveta do imenso móvel de estilo oriental, separei uma peca íntima - trouxe-a para perto do meu nariz e a cherei - adorava o cheiro que as roupas tinham, sem falar do cheiro do produto que ela usava para lavar e amaciar, ainda tinha o cheiro das gavetas, da madeira do móvel e os saches que ela colocava para mim.

Ela era caprichosa...sempre organizava tudo, nao deixava uma só chance para eu arrumar alguma coisa, nao poderia deixar eu fazer nada, queria que eu vivesse meu tempo com o Addi, nos entendéssemos e pudéssemos ser felizes- assim como ele sonhou - e como nós merecíamos.

Ela deixou isso bem claro pelo jeito que cuidava da gente, da maneira que se negava a deixar-me ajudá-la com os servicos da casa, até que as outras mocas chegassem.
Queria a felicidade nossa, queria aquela casa cheia de alegria, queria ver Addi feliz...

Nazira, foi uma pessoa muito amigável e doce no meu tempo no Marrocos.
Voltando a lembrar daquele dia...

Ela voltou-se para mim avisando que meu banho estava preparado, eu retruquei dizendo que eu mesma poderia te-lo preparado.
Me mandou me cuidar e me preparar para meu homem, e que deveria tirar aquele ar de tristeza do meu semblante.
Ela percebeu, dava para notar ... puxa! como ela aprendeu a me conhecer.

Neguei essa tristeza, nao queria comentar com ela sobre meus sentimentos, os que afligiam meu íntimo, meu coracao, eu estava confusa, me sentindo estranha desde um dia anterior, o dia da festa.
Nao podia comentar essas coisas com ela, nao me sentiria a vontade.
Mas, levei em consideracao toda a sua atencao e carinho.
Nao queria ficar ali deitada na banheira, mas ela preparou para mim, nao tinha jeito, ela ainda estava por perto, escutaria o chuveiro, entao entrei, me deitei e fiquei relaxada escutando música - e sentindo o cheiro bom de toda a essencia espalhada pelo banheiro, da casa sendo limpa e higienizada.

Bateu na porta de leve e me avisou que iria comprar flores, sementes e ervas.
Algumas flores, ela usava nas gavetas do Addi, dava um cheiro muito bom nas roupas dele, um cheiro de roupas frescas e novas...ela conhecia, do tempo das avós, muito sobre perfume das plantas, o que podia usar para agradar um homem, o que podia melhorar muita coisa para nós seres humanos, usando a natureza.

Pena que na época eu nao sabia que iria perder toda a minha vida que estava se preparando para ser a maior felicidade que eu poderia ter tido...poderia ter aprendido mais com Nazira se eu soubesse que meus dias de felicidade estavam contados...eu teria feito tantas coisas diferentes, uma delas sem dúvida - teria amado Addi, mas dizendo todos os dias o que ele sempre quis ouvir
I LOVE YOU! Ana Bahabak! eu te amo!

Continua.....


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