domingo, 9 de junho de 2013

Pt 91° - atualizada -Um homem árabe para chamar de seu, Um amante berbere -Em coma de lembrancas



foto de:  discipulosemilheus.com


Olá amigas, estou de volta - Vamos a 91° postagem.
Antes de continuar a ler, parem e clique nesse vídeo, coloque a música baixinho enquanto lê até a parte que estarei pedindo a você para ouvir outra música .
Por que isso?
Para gerar dentro de Vocês sentimentos que as façam mergulhar no meu mundo.







Europa, 2013

Eu ainda estava na estação de trem - o frio castigava as criaturas que respiravam aquele ar congelante, que andavam de um lado para outro ansiosas, esperando seus respectivos trens chegar.
Eu era uma dessas criaturas, castigada pelo frio, ainda que presa naquelas roupas que nos acorrentam o corpo em camadas de tecidos, botões e fecheclé - que asseguravam que todo nosso corpo ficasse ali dentro, espremidinho e protegidos...mas também sem muita liberdade.

Eu não pretendia ir longe, não mesmo...nunca no frio meus desejos de viajar sem muito dinheiro me levaria muito longe. Se fosse o clima do Brasil que estivesse fazendo parte daquele meu cenário, certamente eu me perderia por qualquer caminho, qualquer aeroporto, rodovias - qualquer via que me levasse para muito longe...mas, não naquele momento...meus dentes não paravam, batiam sem parar - ainda que estivesse quentinha dentro da roupas pesadas que aqueciam, eu sentia frio, o frio n´alma...aquele que nunca me deixava e nunca me deixou.

Mesmo assim eu transpirava...minhas mãos geladas suavam - como podia isso?

Uma jovem que passava por mim deixou algo cair e o barulho chamou atenção de todos, também a minha.
Voltei minha atenção para ela, acho que não somente eu, mas todos ali gostaram que ela quebrou nossa prisão daqueles momentos de espera.
Alguns jovens, ainda dotados do cavalheirismo; que temo num futuro não exista mais entre as massas, procuraram oferecer ajuda e atenção aquela perdida jovem, com todas aquelas coisas em seus braços delicados.

Por sorte sendo bela e jovem teve atenção oferecida até quando ela os dispensasse - o que foi feito minutos antes do seu trem chegar.
Ela se foi no trem que esperava e muitos de nós continuamos ali, ainda no anseio da espera de mais alguns minutos.
Mas, ele chegou - ida para Zurique, isso era mais longe do que eu podia ir - não ia para viajar, ou passear, eu estava apenas indo a algum lugar que eu sabia podia ir...

Queria pensar - queria ter-me novo - eu estava sem a paz que há muito deixei de ter... mas que sempre tento reaver.
Fri vou te buscar, só assim consigo ter Você, sim Você, o seu original e não essa Fri que agora finjo que sou.
Eu me disse confiante e cheia de necessidade.

O trem estava já organizado, passageiros em seus assentos - ia partir e isso era tudo que eu precisava.
Precisava do movimento de ir - de estar indo, saindo, partindo - da  sensação de estar indo para algum lugar, a velocidade física do veículo, acionava a minha velocidade interior, parte minha que estava enjaulada, eu precisava soltá-la...e isso começou a acontecer assim que o trem pegou sua maior velocidade....

Primeiro eu consegui visualizar a paisagem, lentamente, depois um pouco mais rapidamente - um formigamento rompia a quietude dos meus dedos dos pés, que subiu pelas minhas pernas.
De cima, vindo por minha cabeça, também senti uma vinda, essa era a sensação; que vinha da minha cabeça uma energia quente e vinha em tremenda velocidade - o trem também ficou mais veloz, meus pensamentos acelerados, pareciam que se despregaram de dentro da minha mente adormecida.

Algo estava se libertando...parte minha que sempre foi livre; quando eu era livre para ir e vir, começou a se manifestar.
Coloquei os fones de ouvido, a música que eu precisava entrava nos meus ouvidos e mexia com todos os meus sentidos... eu estava me chamando, me procurando, me puxando, me tendo de volta.

E quando senti a liberdade de estar fora do que me obrigava a usar aquela máscara de Fri-nao-Fri, fora do ambiente e longe das pessoas que estavam fazendo parte do "show de Truman" que o mundo se tornou,  então comecei a me sentir viva e livre novamente.

Senti uma saudade de mim tão grande, como era bom poder me rever, sentir como eu me sentia antigamente, tudo na privacidade do meu interior eu olhava o mundo agora exteriorizando a minha observação para o seu presente sem deixa-lo me afetar, ou seria somente meu aquele presente?

 


foto retirada de: joserosarioart.blogspot.com
 


Antes, eu estava me sentindo como numa floresta, com árvores imensas, suas árvores de raízes gigantes policiando a liberdade minha, mais ou menos como essa foto acima - suas raízes gigantes prendiam-se fortemente na terra, como o tudo que eu estava experimentando.
Aquelas raízes eram as experiências que eu estava vivendo e ainda estou, mas que não as quero, nunca as quis, tudo foi mudado e sou obrigada a viver o que outros planejaram.
Ainda pior do que já fui obrigada a viver antes do antes que eu agora comento.

Muitos estão na mesma situação, mas não conseguem entender porque precisam vivenciar o que vivenciam no atual momento de suas vidas.




Senti uma alegria incontrolável, se eu pudesse deixar-te vir completamente de volta a tona Fri, seria tão bom - disse eu a mim mesma - mas fique aí escondida na minha pele, no bater do meu coração saudoso - e veja com meus olhos como se fossem os olhos de antigamente, quando você conseguia ver o mundo ainda com esperança e ter certeza de coisas que não poderá nunca saber se existiram...e continuei a dialogar com minha presença interior.



Meus olhos presos na velocidade que ia fazendo a paisagem perder as formas, tudo que eu via eram riscos coloridos formados pela velocidade que estreitou a paisagem até que atingissem aquela fineza, aquele alongamento que distorcia as formas...dava mesmo a impressão que a gente se movimenta...mas, que estou a falar, claro que a gente se movimenta.



E, não demorou muito senti um puxão, uma forca de sentimento me enlaçou e me arremessou de volta ao Marrocos, para aqueles dias que eu ainda era a Fri que eu me identificava - não tenho mais identidade com o que eu aprendi que eu era...
Claro, ainda sei que sou a Fri, mas sei que não sou mais Eu - como sei isso,  sei sentindo isso, sei vivendo isso e tudo que vivo e sinto me faz saber que não sou mais quem eu me conheci - não sou mais aquela que eu me identificava como Fri, como meu Eu que eu tinha costume de saber e conhecer como sendo Eu mesma - vocês  me entendem?

 
Apenas vivo o que o sistema está obrigando a todos viverem - um mundo magoado e sangrento está agora aos nossos pés, mas se disfarça de encanto todo o tempo para a todos distrair e acalentar, deixando todos mansos e maleáveis; enquanto vai liberando as depravações do submundo para deleite dos que dele se alimentam.

Por favor parem de ler, ouçam a musica "Wonderful life do grupo Back", sinta a tristeza e melancolia dessa música, isso é parte de mim também, secretamente, pois não deixo as pessoas perceberem minhas tristezas, minha saudade, minha palidez d´alma. Não achei um vídeo melhor, já que o youtube deleta os vídeos originais por causa do copyright




O trem sem parar - ia veloz comendo a distancia ... indo pra Zurique... e eu voltando ainda mais velozmente no tempo. Todo a beleza daqueles dias começaram a se abrir diante de mim.
Lá fora, pela janela eu apreciava as cenas que se mostravam e iam se montando o cenário dos meus tempos felizes junto com ele...esse cenário daquele tempo estava ali aparecendo e me levando de volta a impressão que temos do passado de tempo....

Eu não tinha lugar nenhum para ir em Zurique, apenas comprei o ticket que pudesse me levar para longe de tudo que eu estava vivenciando diariamente.
Quando o trem chegasse lá eu compraria outro ticket para voltar, sem ao menos ir para cidade ou passear pela linda e cara Zurique.
Eu não conseguia mais escutar o som do meu presente -  o som do mar chegou a mim; não somente o som, mas aquele cheiro de mar também...
Pude sentir de volta a maciez úmida da areia, o calor dos raios do sol, o som dos pássaros que voavam sem parar espreitando suas vitimas, que sem piedade iriam tirar fora do seu habitat natural, levando-os a morte...no meio dessa cena brutal a minha lembrança de bons momentos com ele era doce e confortável
.
Eu tive que me acostumar com aquela cena, não podia mudar os animais, eles estavam programados, eu não conhecia o código para fazer uma mudança, então só restava aceitar e evitar de olhar essa luta pela sobrevivência entre eles.

Com meus olhos abertos que fitavam o lado de fora do trem, eu parecia mesmo entretida com a paisagem sem formas que passavam em velocidade...mas, meus olhos não eram mais os olhos cheios de dor do agora, do meu novo tempo - do novo normal do mundo, das coisas feias que se tornaram maiores, das coisas difíceis que se tornaram impossíveis de se facilitar, das coisas perdidas que não poderão nunca mais se achar, das pessoas que não sabem mais amar....e eu com tanta coisa que com ele aprendi devo apenas manter para mim toda a informação, todo o conhecimento, toda a felicidade e toda a verdade

Minha única amiga, a qual eu podia confiar e dividir o que passei e aprendi com ele era eu mesma.
Somente eu podia trazer a tona cada momento nosso, cada palavra, cada carinho, cada olhar e todos momentos de amor...
Mas, eu não sou mais o que era, e por isso as vezes tudo isso ficava afogado dentro de mim - um valioso tesouro escondido, minha preciosidade.
E por eu não ser mais a que ele conheceu e aquela que eu também bem conhecia, e como eu também já nem mesmo podia ser Eu - me tentando e me abrindo constantemente - me restava me reencontrar bem longe, escondida, aqui e acolá... onde o infinito se perdesse entre o finito dos momentos da rotina de nossas vidas...e nessas horas liberar a mim, a ele e a tudo que vivemos.




iplay.com.br

As ondas batiam nas pedras, e lambiam a areia, levando com elas o que pudesse...e eu e ele estávamos lá.
Ele que tinha se desnudado de tudo, veio para mim nu...e sua nudez fascinante,  aprisionava nossos olhos, mexia com nossos desejos, mesmo os mais calmos e controlados desejos que possamos ter eram sacudidos com aquela bela visão de um homem tão lindo andando sem dar valor a sua própria beleza ou altivez natural, andava  pela areia branca ao encontro de uma mulher que não possuía nenhuma beleza padronizada para formar o "par perfeito" aos olhos dos que discriminam o verdadeiro amor; caso ambos não sejam lindos, ricos ou possuíam qualquer outro padrão exigida pelo sistema para dar a eles o merecido romance dos famosos best-sellers.
Sua beleza masculina mais perfeita e adorável que um "Deus" poderia criar (se deus pudesse existir, teria se orgulhado de toda aquela beleza).

Addi, e sua beleza que  o mundo cairia aos seus pés, adularia até suas pegadas, suor e sua sombra; enquanto que ele via-se apenas como mais um normal Ser Humano e nada mais do que Humano.
Se sentia belo quando me via feliz ou outros felizes, assim ele encarava a beleza, somente nesse momento conseguia capturar a idéia de beleza.

O cheiro daqueles dias, a lembrança de tudo começou a ficar tão nítido em minha mente....tive medo de não conseguir mais voltar meus pensamentos para o presente...
Ah! se isso acontecesse e eu entrasse num Coma de Lembranças, ficando para sempre presa naquele tempo, mas com ele...que bom seria, mesmo que vivesse só lembrando seria melhor do que me dividir em não lembrar e lembrar e pior vivenciar o momento que vivo -sozinha, sem ele....

E assim, fui lembrando...

Continua.....


Abaixo um vídeo de um cantor (Nsabar Galbi),  que me lembra muito Cheb Mami

Até a próxima postagem..

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